Sou do tipo de pessoa que senta (ou deita, ou fecha a porta
do quarto) para escutar música. A minha vida toda tem trilha sonora. O colégio,
no ensino fundamental e médio, as várias fases da faculdade, as reconstruções
familiares, os amigos, os amores, os casinhos... Há muito tempo, uma amiga me
falou que podemos perceber que o amor não vai bem quando a trilha sonora “perde
a qualidade”, foi assim que ela diagnosticou o fim de um dos meus romances
#malandrinha.
No trabalho, tínhamos uma rádio imaginária que se chamava “Biscoito
Fino” e tocava, se não todos os dias, pelo menos às sextas-feiras, os grandes
sucessos de Raça Negra, SPC e Fagner (ahhh, coração alado!!), com direito a
novas versões, olhos fechados e mãozinha no peito (sim, Casimiro, eu também me
afogo nas saudades da aurora da minha vida).
Outra amiga minha, ainda hoje, fica deveras abusada quando
escuta Codinome beija-flor, porque
lembra de um ex-namorado meu que não deixou saudades em nenhum coração, mas que
adoramos por ter promovido as melhores gargalhadas dos últimos anos. Não era amor,
era cilada, cilada, cilada.
Do meu mais recente desamor, não tem uma música que se
destaque, teve o álbum inteiro de Justin Timberlake no momento mais propício.
Teve um show inteiro de Jazz no melhor lugar da casa. Teve The Smiths e Talking Heads, com direito a dançar até o chão (em público), Norah Jones, Jeff Buckley,
Kitara (porque tua pele é minha morada, e, junto a ti, me sinto outra) e várias
descobertas maravilhosas (musicais também).
O disco de Jack White (Blunderbuss) salvou um dos dias mais
chatos da minha vida. E Paulinho da Viola e Cartola já devem estar cansados da
difícil tarefa de acalmar o coração descompassado dessa escorpiana, mas seguem,
insistentemente, me colocando na cadência bonita do samba.
Dia desses, expulsei uma mágoa baixando o restante da
discografia de Pink Floyd (ainda tá faltando meddle, caso alguma boa alma leia
isso e se compadeça), não tive rosto pra tanto sorriso. Uma outra amiga me
deixou tomar conta da vitrola dela enquanto ela anda pelo mundo, e os domingos
amanhecem lindos com direito a Caetano cantando Muito Qualquer coisa.
A música é uma espécie de salvação. Seja para gritar até
perder a voz ou sequer abrir a boca, seja pra lembrar ou perpetuar, seja pra
gargalhar ou sangrar*. Nietzsche propagou muita coisa, e eu li menos (muito menos) que 10% do
que ele escreveu (agradecimentos a um amigo que me fez pular trocentas páginas
de Humano, demasiado humano para contemplar os aforismos que tinham a mulher como tema. Obrigada! Só que ao contrário), mas,
apesar da distância no espaço/tempo, tenho vontade de dar um abraço no filósofo
toda vez que recordo de uma de suas conclusões: “Sem música, a vida seria um
erro”.
*Sangrando
“Quando eu soltar a minha voz, por favor, entendaQue palavras por palavras eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando
Quando eu abrir a minha garganta, essa força tanta
Tudo que você ouvir, esteja certa que eu estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos e o tremor das minhas mãos
E o meu corpo tão suado, transbordando toda raça e emoção
E se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante que o teu canto é minha força pra cantar
Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que é apenas o meu jeito viver
O que é amar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário