quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Dois dedos de prosa e cachaça

Eu gosto de bar. Acho que tomei essa decisão naquele dia na praia, quando eu tinha uns 7 anos e meu pai tomava uma cervejinha enquanto eu ficava na tentativa de me fazer de gente grande roubando o copo sorrateiramente e fazendo pose de maturidade, mas já denunciando a infantilidade no bigodinho de espuma.

O fato é que o mundo é dividido entre os que bebem e os que não bebem. Constatei isso na semana passada, antes eu acreditava que era possível a convivência pacífica entre ambos os grupos... não, não é.

A mesa do bar é quase o templo sagrado do bebedor. Ali, constroem-se teorias, nasce um cantor, monta-se uma banda de rock, assinam-se contratos imaginários de empregos, define-se o nome dos filhos, lança-se debates prol e contra a vida da ararinha azul, derrubam-se conceitos, fermentam-se opiniões, agrupam-se partidos, discute-se entre o tudo e o nada a partir de qualquer coisa.

Normalmente, o negócio acontece de forma natural. A partir da quinta cerveja de uma mesa de três, já se começa a falar de Lula e conceitos de direita e esquerda. Quando você menos espera, o papo degringolou pra as bandas da música e facções da mesa do lado discutem com você se Beatles é ou não é melhor que Rolling Stones, enquanto o garçom – que a essa altura já virou seu melhor amigo – traz uma porção de filé com fritas. 

Essa superestrutura é o cerne da reunião de amigos no boteco da esquina. Entretanto, semana passada, vi os alicerces desse edifício prestes a ruir. 
Sabe o que desestabiliza qualquer organismo? Um corpo estranho. Pois é. Na semana passada, vi meu sistema ser invadido por um antígeno que eu julgava ser apenas um lactobacilo. De repente, eis que surge a frase: “tás falando merda porque tás bebo, José”. 

Porra, digo eu. Deixa José falar. Ele sempre disse o que queria quando queria por aqui, meu amigo. Mal chegou e já quer sentar na janela acompanhado do seu abominável suco de abacaxi com hortelã? 
José me ensinou a teoria da inclinadinha de copo, a lei do “ligue pra o seu pai antes que ele ligue pra você”, apresentou-me o álbum Sticky fingers dos Stones – numa belíssima versão “live in Parentella” – e, por mais que não tenha criado as leis da termodinâmica, dividiu conosco sua sabedoria em termos de arrumação de cervejas em festa de aniversário. 

Grandes aprendizados de vida acontecem no bar. Fora as declarações de amor e pactos de cuspe! Nada sela uma aposta como uma caninha, nada. Aí vem um Zé roela pra estragar tudo. Garçom, desce uma dose de “se liga” pra esse cara! Mas, antes, traz mais uma gelada.

8 comentários:

  1. Quero conhecer José. Com álcool, SVP!

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  2. Tô amando o blog! Já tinha lido uns textos de Nanda e hj vim ler o de saudade. Acabei caindo nas graças da Femme fatale de Amanda e cheguei até aqui pela identificação com o título. :)
    Amanda, teus textos soam tão familiar dentro de mim, que parece que eu que escrevi. Hahhahaha mto massa!

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    1. own, que linda! Mas pra que servem as palavras se não são pra nos ligar a outras pessoas, né isso? Que bom, que feliz, Cybelle! =)

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  3. Como faz pra apagar o passado bloguístico?? Socorro! Que coisa tosca! +_+

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  4. De quem é mesmo a frase "Nunca fiz amigos bebendo leite"? Ah, sim, graaaande Vinícius! Então você não pode estar errada, Fernanda... ;)

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    1. Certamente o pensamento está correto. Mas os créditos são de Amanda :)

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