sexta-feira, 18 de julho de 2014

Coragem: agir com o coração

A verdade é que há uma estrada e que nessa estrada cabe tudo que você buscar ou receber, por sorte ou azar. A grande verdade é essa. Seria fácil se essa estrada tivesse apenas bifurcações. Para os otimistas, 50% de chances de acerto, metade do copo cheio, etc. Para os pessimistas, meio copo esvaziado, metade de chance de fracasso. A verdade é que não há. Ou melhor, não há apenas bifurcações. Nessa estrada, há labirintos, subidas, open bar, descidas, abismos, oasis (And all the roads we have to walk are winding).
Seria prático se, no começo dela, recebêssemos um mapa, ou manual de instrução (oi, Perec!), mas não seria tão divertido. Seria interessante se houvesse, pelo menos, um objetivo a atingir: conquistar Vladivostok, Aral e mais um território à sua escolha. Não há meta. Ou melhor, a meta é ir o mais longe que puder/conseguir, a direção é um detalhe, importante, mas detalhe.
Devanear é um jeito de dar uma descansada. Como eu, aqui, agora, procrastinando a viagem. Tentando entender se é melhor recuar ou desviar, claramente fugindo do embate logo ali, em frente. Dando voltas atrás do próprio rabo. Devanear também é um jeito de definir qual das 300 bilhões de possibilidades você não pode aceitar, embora esse cálculo sirva, na maioria das vezes, somente como um freio medroso. E à essa altura, devido ao desgaste do freio, ele já não funcione tão bem. E, quando comparado ao acelerador, ele pareça completamente destruído e inútil.
Aí tem aquela hora em que você cansou de dar voltas (ou, na verdade, está nauseada, mas sabe que o uso do eufemismo está aí pra isso mesmo, dissimulação nível Capitu: Não tenho gastrite, tenho azia. Não estou com raiva, estou na minha, etc.) e que tem que escolher se ou vai ou racha, se volta sem ir, se pega a saída de emergência, se sai à francesa, se segura na mão de Deus e vai... Bom, as opções são infinitas. A hora é de escolher.
Acontece que eu estou no limbo de transição entre os devaneios e a escolha. Acontece que, por ter mais de 20 anos, eu sei que minhas escolhas são só parte dessa conversa toda, porque não consegui privatizar essa estrada, e, inevitavelmente, vão ter muitos cruzamentos, cruzetas e encruzilhadas (redundantemente redundantes), algumas com cachaça, farofa e galinha (Eparrei Oyá, saravá!). E às vezes o Diabeux vai querer construir 14 prédios de milhões de andares no meu caminho, e eu vou ter que saber a hora de fincar o pé e a hora de avançar.
O medo foi um dos meus companheiros mais constantes, durante todo o percurso. Por ele, evitei quebrar a cara algumas vezes; em outras, perdi um bocado de surpresas agradáveis ou experiências importantes. O medo se disfarça de preguiça, de impossibilidade, de orgulho, de falta de dinheiro, de frustração. O medo é um bichinho tinhoso e safo demais.

De um lado Riobaldo me entende: “O senhor escute meu coração, pegue no meu pulso. O senhor avista meus cabelos brancos... Viver — não é? — é muito perigoso. Porque ainda não se sabe. Porque aprender-a-viver é que é o viver, mesmo”. Do outro, Caetano instiga: “Deixo fluir tranquilo / Naquilo tudo que não tem fim / Eu que existindo, tudo comigo, depende só de mim / Vaca, manacá, nuvem, saudade / Cana, café, capim / Coragem grande é poder dizer sim”. Calculo a vida e concluo o infinito. E, na impossibilidade de controlar o que não tem medida, vou na onda de Baby, canto junto “tudo é perigoso, tudo é divino, maravilhoso”, saio do lugar. Leminski abençoa: “Parar dá azar”.

sábado, 12 de julho de 2014

Hoje eu quero voltar sozinho



Mais que fundamental, o aviso de spoiler, antes de um texto, já salvou muita amizade mundo afora. Particularmente, não me importo com os finais; inclusive, na minha ansiedade crônica, até prefiro sabê-los antes de iniciar a empreitada literária ou cinematográfica (sim, existe gente assim. Ore por mim!). Devido a essa característica pouco comum, o aviso de spoiler é, para mim, algo similar àquelas letrinhas miúdas que colocam na embalagem de diversos produtos e que ninguém, que não esteja em um nível hard de psicose, lê.
Há, no entanto, um outro aviso que considero sine qua non para a minha existência neste Universo: Em caso de TPM, não leia, não assista, não olhe. Imagino que deva ser um grande mistério para todos os terráqueos que não passam pela famigerada TPM as suas diversas e absurdas consequências. Para mim, terráqueos, também é. Mas, tendo consciência da minha condição, imploro que coloquemos a razão de lado e apenas ajudemos às amigas que sofrem de tão perverso mal.
Esse aviso teria evitado que eu visse um comercial feito exclusivamente para emocionar seres humanos, mas que, em meu estado especial de humanidade(?), fez-me chorar oceanos, com direito a soluços e aquele som estranho que o ato de chorar produz nos mais dramáticos (ver qualquer atuação de Thalía, como referência). É evidente que eu adoraria ter visto esse comercial, mas em dias de TPM, não. Por motivos de instinto de sobrevivência e essas coisas que Darwin disse por aí, parece. Caso você queira ver o supracitado filminho: https://www.youtube.com/watch?v=OodeazD1yKw, mas, lembre: Aviso TPM. Tô sendo legal, perceba!
Ontem, um amigo disse: “vamos ver um filme?” e eu respondi, inocente: “vamos!”. O filme, gente bonita, era “Hoje eu quero voltar sozinho”. O nível de fofura/amor/ternura desse filme é tamanho que deveria ter um aviso em letras maiúsculas “TENHA MUITO CUIDADO. E JAMAIS ASSISTA SE ESTIVER DE TPM”. Não tinha aviso. E, bom, sinceramente, fico feliz com a ausência dele. O filme é uma das coisas mais fofas que vi nos últimos tempos. O elenco é bom, o enredo é muito massa, e o final... Ah, o final é coisalinda (aviso: leve lencinhos).
O cuidado e a sensibilidade que existiram na realização desse filme são capazes de emocionar qualquer coração gelado (Atualizando: mentira minha, um amigo que nem é muito coração gelado disse que não curtiu. Um espanto! :O). Tratar de adolescência sem ser clichê, da cegueira sem aquele tom piedoso, das relações de maneira sóbria e do amor de um jeito tão, mas tão bonito é merecedor de muitíssimos aplausos. Foi o que aconteceu ontem no final da sessão. Eu não curto muito esse negócio de aplaudir filme, não vejo sentido, mas confesso: ontem, se eu não estivesse enxugando minhas lágrimas, teria aumentado o barulho dos aplausos, com gosto. Acho que quando algo é feito com muita dedicação, o resultado é uma coisa parecida com a que vi ontem: um amontoado de carinho e cumplicidade.
Não vou fazer sinopse porque não sei medir até onde é spoiler e até onde não é, além do mais, deve ter umas cinquenta mil sinopses pela Internet. Vou fazer um apelo: vá ver esse filme, com ou sem TPM. Antes disso, escute um milhão de vezes a música principal, ou a trilha sonora inteira, e, se tiver a minha idade, se jogue na sua passada e querida adolescência.




Boa sessão!

quinta-feira, 29 de maio de 2014

Pelejar

Verbo intransitivo.
1.Batalhar; combater, lutar, pugnar



Mas além disso, verbo que tem residência fixa na língua afiada de minha avó. 

"Tem que pelejar na vida, Amanda". E eu, obediente, sigo firme esse conselho. 

Tem dia que é mais difícil, claro. Tem dias em que o pensamento e as pernas querem permanecer quentinhos e quietinhos debaixo do cobertor. Mas a vida chama lá fora, numa autoridade só dela. Exige a peleja, a correria de pastas e ofícios. Então eu levo comigo o verbo debaixo do braço, pra sempre que eu precisar me lembrar que existir é bem por aí: insistir. 

segunda-feira, 19 de maio de 2014

Insegurança

A insegurança faz a pessoa afastar bons fluidos, bons amigos e bons encontros na vida. A insegurança faz a gente ter medo de se apagar diante do outro. A insegurança faz a gente, mesmo que sem querer, imitar o outro. A insegurança faz a gente ter medo de perder espaço. A insegurança faz a gente querer ser o centro das atenções o tempo inteiro. A insegurança faz a gente achar que ser centro das atenções e ser querido é a mesma coisa. A insegurança faz a gente cair do palco quando nos falta plateia.

A insegurança, por fim, faz a gente não querer somar. Faz da gente uno. 

A insegurança, tadinha, esqueceu de que a sós com nossos egos não somos nada.

sábado, 26 de abril de 2014

O vencedor

Nos últimos tempos, tenho pensado bastante em aceitação.

Acho que vivi grande parte da minha vida tentando encaixar as pessoas e, muito provavelmente, as situações do dia a dia em um molde "ideal". Fulano não deveria ser assim, mas assado. O certo é isso, e não aquilo.

É claro que foi preciso, ao longo de anos e intensas lapadas na cabeça, que a sociedade traçasse algumas diretrizes para um bom convívio entre as pessoas. De modo que um morto de fome jamais terá absolvição por roupar um pacote de pão no mercadinho. O que, em papo de mesa de bar, daria umas boas horas de conversa, mas, quando analisado sob a perspectiva do "preto no banco", roubar é sempre roubar.

Trazendo para o microuniverso da minha vida, já meti muito os pés pelas mãos na tentativa de mudar algumas pessoas ou situações. Ou pior: achar que algum evento era de tal forma apenas para justificar um fim que estaria por vir e que seria a la história das princesas da Disney. Não é assim.

Há pessoas que são o que são, ponto final, nada de reticências ou dois pontos seguidos de um aposto explicativo.

Há gente egoísta, há gente machista, há gente com medo de gente e de ser gente, há gentes mil.

Não dá pra ficar sempre justificando uma surtada de um com um propósito totalmente nosso. É preciso aceitar.

Infelizmente, o conformismo ganhou um teor pejorativo ao longo do tempo. Conformar-se virou uma espécie de derrota nesse mundo nosso.

Eu não vejo dessa forma. Ao menos não mais.

Acho que saber reconhecer que algo é o que é pode evitar um gasto de energia tremendo sem necessidade. Vamos abdicar dos murros em ponta de faca?

As frustrações fazem parte da vida e estão aqui pra nos dizer que há muitas outras coisas para as quais podemos doar nossos esforços. Ou, ainda, estão aqui pra nos mostrar que, possivelmente, estamos no caminho errado, remando contra a maré.

O frustrado não é o perdedor. O frustrado é aquele que apenas tentou e chegou num fim: o fim que não deu certo segundo o seu ponto de vista.

É preciso girar o corpo 360 graus. Primeiro porque é possível. Segundo porque viver sob um único ponto de vista é burrice.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Música para ouvir


Sou do tipo de pessoa que senta (ou deita, ou fecha a porta do quarto) para escutar música. A minha vida toda tem trilha sonora. O colégio, no ensino fundamental e médio, as várias fases da faculdade, as reconstruções familiares, os amigos, os amores, os casinhos... Há muito tempo, uma amiga me falou que podemos perceber que o amor não vai bem quando a trilha sonora “perde a qualidade”, foi assim que ela diagnosticou o fim de um dos meus romances #malandrinha.
No trabalho, tínhamos uma rádio imaginária que se chamava “Biscoito Fino” e tocava, se não todos os dias, pelo menos às sextas-feiras, os grandes sucessos de Raça Negra, SPC e Fagner (ahhh, coração alado!!), com direito a novas versões, olhos fechados e mãozinha no peito (sim, Casimiro, eu também me afogo nas saudades da aurora da minha vida).
Outra amiga minha, ainda hoje, fica deveras abusada quando escuta Codinome beija-flor, porque lembra de um ex-namorado meu que não deixou saudades em nenhum coração, mas que adoramos por ter promovido as melhores gargalhadas dos últimos anos. Não era amor, era cilada, cilada, cilada.
Do meu mais recente desamor, não tem uma música que se destaque, teve o álbum inteiro de Justin Timberlake no momento mais propício. Teve um show inteiro de Jazz no melhor lugar da casa. Teve The Smiths e Talking Heads, com direito a dançar até o chão (em público), Norah Jones, Jeff Buckley, Kitara (porque tua pele é minha morada, e, junto a ti, me sinto outra) e várias descobertas maravilhosas (musicais também).
O disco de Jack White (Blunderbuss) salvou um dos dias mais chatos da minha vida. E Paulinho da Viola e Cartola já devem estar cansados da difícil tarefa de acalmar o coração descompassado dessa escorpiana, mas seguem, insistentemente, me colocando na cadência bonita do samba.
Dia desses, expulsei uma mágoa baixando o restante da discografia de Pink Floyd (ainda tá faltando meddle, caso alguma boa alma leia isso e se compadeça), não tive rosto pra tanto sorriso. Uma outra amiga me deixou tomar conta da vitrola dela enquanto ela anda pelo mundo, e os domingos amanhecem lindos com direito a Caetano cantando Muito Qualquer coisa.
A música é uma espécie de salvação. Seja para gritar até perder a voz ou sequer abrir a boca, seja pra lembrar ou perpetuar, seja pra gargalhar ou sangrar*. Nietzsche propagou muita coisa, e eu li menos (muito menos) que 10% do que ele escreveu (agradecimentos a um amigo que me fez pular trocentas páginas de Humano, demasiado humano para contemplar os aforismos que tinham a mulher como tema. Obrigada! Só que ao contrário), mas, apesar da distância no espaço/tempo, tenho vontade de dar um abraço no filósofo toda vez que recordo de uma de suas conclusões: “Sem música, a vida seria um erro”.

*Sangrando
“Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que palavras por palavras eis aqui uma pessoa se entregando
Coração na boca, peito aberto, vou sangrando
São as lutas dessa nossa vida que eu estou cantando
Quando eu abrir a minha garganta, essa força tanta
Tudo que você ouvir, esteja certa que eu estarei vivendo
Veja o brilho dos meus olhos e o tremor das minhas mãos
E o meu corpo tão suado, transbordando toda raça e emoção
E se eu chorar e o sal molhar o meu sorriso
Não se espante, cante que o teu canto é minha força pra cantar
Quando eu soltar a minha voz, por favor, entenda
Que é apenas o meu jeito viver
O que é amar...


quinta-feira, 13 de março de 2014

Vestida com as roupas e as armas de Jorge

Vivemos num mundo cheio de pretextos para enlouquecer.

A bomba de frustrações e insatisfações é inflada um soprinho (ou mais) por dia, e cabe a nós instalar uma válvula de escape para que ela não se torne um balão grande e rígido crescendo dentro de nós e nos fazendo sair do chão ou, pior, explodir.

Tudo bem que vezenquando é bom fugir pra uma melhor, tirar a âncora que prende esse balão no chão e deixar-nos soerguer alto, nuvens afora. Dar um tempo do real é, por vezes, bacana. O danado é quando o balão estoura. Então é pedaço de gente e da gente por todos os lados. 

Não sei se é uma boa metáfora para todos. Mas foi essa que construí para entender toda vez que Isadora fala: "frendê, não adianta juntar todos os problemas e arrumar mais dificuldades para tudo" (não é exatamente assim, mas é) E ela está certa. Bora com calma, né? Step by step.

Dessa forma, tenho adotado várias válvulas de escape pra não me prender tanto nos problemas e juntar uma coisa na outra, numa linha imensa que tende ao infinito. É justo comigo e com os outros. 

Uma das válvulas e a mais importante delas é a amizade. 

Nesses dias de "o mundo é muito injusto comigo e que vítima eu sou", agradeço muito por ter os amigos que tenho e pelos caminhos trilhados em comunhão. São essas pessoas que escolhemos na cara dura da verdade que fazem cada dia meu valer a pena, e mais, faz eu esperar ansiosa o dia seguinte, para que novas trocas aconteçam.

Aprendi o mais clichê dos aprendizados: nenhum ser humano consegue ser só. Mas aprendi que o aposto explicativo que vem logo depois dessa afirmação tem que ser: "devemos estar cercados de poucos e bons". 

E é por isso que, nos momentos de maior dificuldade e nos de maior alegria, quero estar com meus irmãos escolhidos na Terra. Quero que eles sejam a âncora do meu balão no instante em que ele inflar e tentar se perder no meio dessa vastidão que chamamos de mundo. Eles nunca me falharam.

Assim, ando pela vida com a ajuda de bengalas de madeira de lei, sabe como é? 

Gostaria que todos soubessem.