sábado, 14 de dezembro de 2013

Âmago

a André Braga

Sempre tive uma relação forte com a Língua portuguesa. Não sei se por uma questão essencial, por educação de casa ou se pelo meu verdadeiro amor por histórias. Ouvir e contar alcançou tamanha importância em minha vida que daí deve ter nascido a minha necessidade de registrar.

Escrever, então, é uma forma de eternizar minhas experiências com o mundo. Esse planeta sensorial, que me chega a tato, me toma os ouvidos, me salta (a)os olhos e faz eu me expandir em verbo. 

Vivo buscando a forma mais exata de dizer. Acredito que vou morrer sem encontrá-la. Mas essa aproximação com a natureza das palavras, de onde elas vêm e como utilizá-las como ferramentas de construção de sentido, aguça cada vez mais a minha procura por entender os meandros de minha Língua, é alimento. 

Não sei crescer sem me contar. Muito menos consigo conceber meu dia a dia sem o verbo do outro. A palavra tem por si essa necessidade de troca. 

Junto, então, uma voz na outra, construindo minha vida em vigas de sujeitos verborrágicos, em firulas de adjetivações, articulando tudo que é exato, conhecido. Amando as letras, sempre.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Viver é preciso

 Para ler de manhã e à noite

Aquele que amo
Disse-me
Que precisa de mim.
Por isso
Cuido de mim
Olho meu caminho
E receio ser morta
Por uma só gota de chuva.


Brecht

Achou, perdido pela memória, um poema de Brecht. Os últimos versos diziam: "receio ser morta por um só gota de chuva". Quando os recebeu, num dia nublado, há muitos anos atrás, os versos não passavam de um afago, uma paquera. Jamais se realizaram, até aquele momento em que a lembrança os rea(s)cendeu, em outro amor.
Naquele momento, aquele texto ressurgiu como que reivindicando seu devido lugar. Naquele momento, ela se cuidava, olhava seu caminho e temia que qualquer coisa interrompesse sua estrada, porque precisava ser. Precisava vivê-la em cada grão momento. E viver, agora, era muito importante.

O amor, em sua forma mais plena, parecia lhe conceder a consciência da vida. O amor desenrolava os nós, convidava pra dançar um tango e gargalhava por existir.Naquele mundo de angústias, foi o amor que lhe revelou seu lugar. Com calma, o amor lhe pegou pela mão e se deixou guiar.

Naquele momento, ela agradecia pelo passado e pelo poema, mas, principalmente, pelo presente, pelos sorrisos de hoje, pela cumplicidade dos silêncios e conversas e noites e dias de agora. Ela agradecia por viver tudo aquilo que ninguém jamais poderia entender. E ser grata era a forma mais bonita de amar.

Rosa dos ventos

O sentido
só tem sentido
quando sentido
por dentro.